Um simples toque, presente.
- Gabriela Santos
- 2 de jan. de 2023
- 3 min de leitura
Dos assuntos que diz respeito à natureza humana, o toque é de essencial importância para a nutrição e realização pessoal e, ouso dizer, planetária.
Ponto crucial do desenvolvimento somático - que diz respeito ao indivíduo como um todo, à nível físico, emocional, psíquico, espiritual - e que ao longo do tempo e da era da 'informatividade', foi perdendo espaço dentre muitos de nós, que nos afastamos da potência curadora existente no toque presente.
Talvez pra começar a discorrer sobre isso, vale a pena a reflexão: o que significa pra você, agora, tocar e ser tocada?
Para mim, é sobre a Presença. Um certo estado de estar em si, com a simplicidade de ser que gera e sustenta espaço suficiente para unir-se ao outro, permanecendo com abertura para afetar e ser afetada ao sentir que emerge com a conexão de dois corpos. E sobre consciência, desapego e o avanço no tema maturidade emocional e disponibilidade física. Além de ser o ponto limítrofe entre dois corpos - trago aqui “corpos” não somente me referindo ao físico, mas às formas-pensamentos manifestos em muitos níveis - , é também uma ponte pra conexão. Tanto consigo mesma(0), como com o outro.

Entendo que o que me toca pode não te tocar, num mesmo espaço-tempo, pois para que isso aconteça, deve existir certa disposição da parte envolvida, além de que, diferentes classes e contextos sociais, religiosos e culturais, criam singularidades em cada indivíduo e na forma como cada um de nós se relaciona com esse momento e com tudo o que nele está contido.
Em termos físicos, o toque é o ato de aproximar-se o bastante de determinado algo ou alguém até que seja feito um contato direto, onde o espaço existente entre estes corpos antes separados, seja reduzido ao mínimo possível ou se finde, em uma perfeita expressão do ato. Afirmo, como testemunho de experiência, que o toque em essência, transforma fragmentos em unidades. (Uso aqui “toque em essência” para me aproximar um tanto mais do que é, de fato; e poder assim aprofundar no sentido vital de uma palavra já demasiadamente surrada. Gesto este desnecessário de minha parte, não fosse pela incúria da língua dos que sobrevivem em um período de tempo em que parece ser, no mínimo interessante, ao sistema vigente, forjar viciados na sensação da auto-afirmação oriunda da prosaica verborragia). Pois apesar de aqui falar de uma ação em si, reflito e convido à reflexão ao fato de que nem todo o ato de encostar, pode ser considerado toque, se assim fosse, não haveria diferenciação entre a ação de tocar e bater, tocar e coçar, apoiar, agarrar ou segurar. Talvez, o que está por trás da ação, seja realmente o carimbo que irá registrar sua característica essencial. Podemos chamar isso de intenção, ou motivação.
Portanto, para que a ação seja de fato considerada um toque, neste ponto de vista, teríamos que envolver aqui muito mais do que apenas o que se vê à nível físico.
Tocar é uma habilidade inata do ser humano, que está também associada intrinsecamente à necessidade natural de conexão, de expressão de afeto, de amor. E a receptividade para a experiência, permite o desenvolvimento dessa habilidade. E essa lapidação é o que permite os efeitos regenerativos do toque.
Quando tocamos ou somos tocadas, estamos informando uma mensagem, que estará registrada agora na memória corporal de quem recebeu e de quem realizou o toque.
Isso é algo que pode ser praticado a cada momento, que pode ser experimentado em cada dia.

Já perceberam aquela atitude de colocar a mão sobre um determinado local que acaba de ser machucado por uma pancada ou algo do tipo? Que tipo de instinto natural é esse? Uma memória ancestral? Maternal? Espiritual? Ou somente uma inteligência corporal? Seja como for, essa ferramenta está a disposição de todos nós. Que possamos fazer bom uso.
Todos os toques que você já recebeu, fazem parte de sua estrutura psico-física. De maneira consciente ou inconsciente. Isso é parte de quem você é, agora. Acessar essa inteligência permite também ressignificar, criar abordagens de conexões integrativas e espaço de expressão genuíno. Que não exclui nada nem ninguém. Nenhuma parte de você, e nem do outro, precisa ficar de fora. O ato de tocar e a receptividade para ser tocada, ensina muito sobre estarmos inteiros, para nós mesmos, e para as nossas relações.
Assim, deixo aqui esse lembrete, para que possamos experimentar a potência existente em um simples toque, presente.
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