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A Árvore do Yoga

A obra conhecida como Yoga Sutras de Patanjali, escrita há mais de 2.000 anos, codifica os princípios essenciais do Yoga, em 196 aforismos, chamados sutras. Este texto milenar descreve a visão do Yoga, incluindo suas técnicas, práticas e experiências ao longo da jornada do praticante, culminando com a experiência de liberdade espiritual. O Yoga Sutras é dividido em 4 capítulos, focaremos o nosso estudo no segundo capítulo, que trata da prática em si, o Sadhana.


O caminho da prática é descrito como Ashtanga Yoga, os Oito Angas ou “passos” do Yoga na jornada de transformação espiritual. os primeiros Angas, Yamas e Nyamas, servem como fundação para a jornada do Yoga, incluindo os valores éticos e pessoais a serem cultivados pelo praticante. Os Angas que servem promovem a integração de corpo, respiração e mente, na intenção de preparar progressivamente o praticante para estados meditativos mais profundos, que os conduzem à experiência de unidade do ser individual com o Absoluto, Samadhi.

Os Oito Angas são considerados o coração dos Yoga Sutras, e são descritos como “A Árvore do Yoga”. Trata-se de como devemos prosseguir para transitar de um estado de distração para o estado de atenção plena. São eles:

  • YAMAS (considerados como a RAIZ da árvore) são os princípios éticos, proscrições. Literalmente traduz-se yamas como controle ou domínio. É o início da prática. São cinco:

1.Ahimsa, não violência - espírito de paz;

2.Satya, veracidade - verdade - alinhamento com o Ser Real;

3.Asteya, não roubo - equilíbrio entre dar e receber nas interações; 4.Brahmacharya, não desvirtuamento da sexualidade - conservação de energia;

5.Aparigraha, não possessividade - desapego.


  • NIYAMAS (Considerados como o TRONCO da árvore, cuidando da nutrição e do alinhamento da árvore), são os princípios pessoais, observâncias, prescrições psicofísicas e compreendem cinco disciplinas:

1. Shaucha (ou Shauchan), purificação - pureza;

2. Santocha, contentamento;

3. Tapas, austeridade ou esforço sobre si próprio - disciplina espiritual;

4. Svadhyaya (ou Swadhyaya), estudo sobre si próprio - auto-estudo - compreensão de si.

5. Ishvara Pranidhana, entrega ao Absoluto - a consagração à Ishvara, arquétipo do yogin perfeito. Entrega das ações e seus frutos a uma vontade superior à própria.

Os Nyamas cumprem a função de domínio sobre os cinco órgãos da percepção: olhos, ouvidos, nariz, boca e pele. Esse controle dos sentidos aponta à organização da vida pessoal do praticante.


Cada Anga tem um propósito bem definido, Os dois primeiros, yamas e nyamas, não são específicos do Yoga, mas visam a outorgar ao praticante uma base de purificação e fundamentação que será indispensável para as etapas posteriores. Cabe destacar aqui, que o Yoga não é moral e nem moralizante: os yamas e nyamas possuem uma função meramente utilitária e, embora possam funcionar como códigos para facilitar a convivência social, somente se praticam em função do autodesenvolvimento em si, visando o objetivo final de libertação das amarras do ego. Os conceitos do Bem e o Mal não não agentes da sua conduta; a única causa do seu comportamento é o titânico esforço sobre si próprio que precisa fazer para viver em yama e niyama, e o resultado desse esforço, a própria libertação.


  • ÁSANA simboliza a força e a estabilidade dos ramos, posições psicofísicas, postura corporal firme, estável e confortável. Posições físicas com a Presença da consciência.

“O ásana torna-se perfeito quando desaparece o esforço por realizá-lo, de forma que não haja mais movimentos no corpo. Igualmente sua perfeição cumpre-se quando a consciência se transforma em infinito, isto é, quando faz da idéia do infinito, o seu próprio conteúdo.” (vyása, Yogabháshya, comentário do sutra 11:47).

“A mente é a parte mais difícil de se ajustar nas posturas.” (BKS Iyengar)


  • PRANAYAMA simboliza as folhas da árvore e seu poder de absorção de energia; são os respiratórios para expansão da força vital. É o domínio da bioenergia, através das técnicas respiratórias. O vocábulo deriva de dois termos sânscritos (grupo de línguas e dialetos indo-áricos antigos do Norte da Índia): prana, que significa alento, força vital, respiração, energia, vitalidade; e ayama, que significa expansão, controle, domínio, retenção, pausa. Assim sendo, pranayama consiste em controlar o processo de inspirar (shwasa) e expirar (prashwasa). O controle da energia vital através da respiração.

Krishnamacharya refere-se à respiração como um ato de entrega: inspire e Deus se aproxima de você. Mantenha a inspiração e Deus fica contigo. Expire e você se aproxima de Deus. Mantenha a expiração e se entregue a Deus.

De acordo com os ensinamentos de Sri Krishnamacharya e Sri Pattabhi Jois “Respiração é vida”. Respirar é nosso ato mais fundamental e vital e possui uma essência divina.

“O ar tece o Universo.” (Brhadaranyaka Upanisad, III: 7.2)

“A respiração tece o homem.” (Atharva Veda, X: 2.13)


  • PRATYAHARA é o recolhimento, reserva e internalização dos sentidos, representado pelos botões de flor ou o córtex da árvore, conservando energia para o futuro desabrochar; é a faculdade de liberar a atividade sensorial do domínio das imagens exteriores.


Ásana, pranayama e pratyahara não são fins em si mesmos: unicamente objetivam proporcionar ao sádhaka uma infra-estrutura física e mental o suficientemente firme e resistente para que possa suportar as transformações advindas do despertar da energia ígnea, kundaliní. Através destas técnicas preliminares, úteis também para superar os obstáculos iniciais (dúvida, preguiça, desespero, dispersão), o meditador se prepara para o Yoga em si, que começa com as técnicas de contemplação.


  • DHARANA concentração, simboliza a força canalizada unidirecionalmente para o florescimento da consciência; a concentração em um ponto só, tem o intuito de limitar a atividade da consciência apenas ao interior da imagem contemplada.


  • DHYANA meditação, está associada à fragância das flores; a meditação contemplativa, consiste em deter as flutuações da consciência através da sua saturação na contemplação de um objeto. A meditação é o resultado espontâneo da concentração da consciência, e constitui a preparação necessária para atingir o objetivo do Yoga, o estado de Samadhi.


  • SAMADHI representa a doçura dos frutos da jornada como união com o Todo. O estado de união com o Absoluto. É a liberação final, iluminação ou êntase, na qual o contemplador reintegra-se no Purusha (o Ser Perfeito), o princípio da consciência, imutável e eterno. É o estado de alegria e paz interna constante e ininterrúpta.


A analogia de Patanjali é perfeita. Sabedoria e espiritualidade se desenvolvem da mesma maneira que o crescimento de uma árvore.


Quando praticamos Yoga com regularidade e consciência, a árvore descrita por Patanjali começa a brotar. A prática é o alimento para esse crescimento.


Começamos a perceber que através da prática regular, os oito membros do Yoga são trabalhados e desenvolvidos. Tornamo-nos mais alertas e conscientes de nosso corpo e aprendemos a posicioná-lo melhor. Através deste trabalho de introspecção, desenvolvemos Yama e Niyama.


Os asanas e pranayamas se desenvolvem quando a atenção consciente na respiração é sentida ao realizar cada posição. Então, percebemos que a mente se fixa em um ponto (dristhi: o foco do olhar) e a atenção à prática e ao som da respiração desenvolvem Pratyahara e Dharana. A medida que a prática se torna cada vez mais introspectiva, características de Dhyana são desenvolvidas. Neste estágio, nós estamos criando um grande potencial para explorar o mais divino aspecto de Yoga, Samadhi.


O Yoga, como todas as práticas espirituais, é assim: irá lhe dar as coisas boas na mesma medida em que se dedica à ele. Portanto, é preciso praticar, intensa, mas disciplinadamente, uma respiração a cada vez. Lembre que o que fura a pedra é uma gota após a outra, e não um balde d’água jogado de vez em quando, quando você se lembra ou quando seu estresse transborda e a única salvação é o Yoga.



Yoga Sutra

Samadhi Pada


Atha yoganusasanam || 1 ||

Agora, o ensinamento do Yoga.

Now, the teachings of yoga are being explained. (Baba Hari Dass)


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